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Mulheres desafiam ‘masculinidade’ dos canteiros de obra e CONTICOM-CUT reforça luta

Crescimento dessa nova geração de trabalhadoras da construção civil desperta nos sindicatos atenção na defesa da igualdade de salários e oportunidades e contra o assédio

Publicado: 03 Outubro, 2024 - 09h36

Escrito por: Redação CONTICOM | Editado por: João Andrade

Reprodução Sintracon-João Pessoa
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Débora bate massa, assenta tijolos e realiza na linha de frente de um canteiro de obras de João Pessoa, na Paraíba, todas as demais atividades que historicamente apenas homens executavam. Ela faz parte de uma nova geração de trabalhadoras da construção civil que cresce cada vez mais: a de mulheres que buscam no setor funções até então consideradas “masculinas”.

Segundo o Sindicato dos Trabalhadores/as nas Indústrias da Construção Civil, Pesada e do Mobiliário de João Pessoa e Região (Sintricom-JP), Débora é servente de pedreiro e única mulher no canteiro de obra de uma construtora que ergue um prédio na capital paraibana.

Apesar do desafio de ser a única mulher naquele canteiro, ela diz que se sente bem com os companheiros de trabalho e enfrenta com naturalidade a pressão da sociedade por trabalhar em uma profissão que sempre foi considerada “masculina”. Débora diz que sonha em se especializar na função de pedreiro – ou melhor, de pedreira – e seguir na profissão.

 

Discriminação e assédio

Para Jéssica de Andrade, secretária-geral do Sintricom-PB e titular da Secretaria da Juventude da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira filiados à CUT (CONTICOM), casos como o de Débora despertam nos sindicatos a preocupação em relação a temas como assédio, discriminação e equidade.

 

“Como o ramo é 95% masculino, encontramos ainda hoje canteiros de obras sem vestiários e banheiros específicos para mulheres ou com um único banheiro para a administração, distante do local de trabalho. Temos também dificuldades com a equidade salarial. Muitas mulheres, mesmo exercendo a mesma função e produzindo igual ou até mais que os homens, ganham menos que eles”, afirma Jéssica.

 

A secretária da Juventude da CONTICOM-CUT também destaca a preocupação crescente com a elaboração de ações de combate ao assédio moral ou sexual. Essas ações podem ter caráter educativo, fiscalizatório e, por vezes, até judicial.

 

“Temos acompanhado alguns casos de assédio, tanto de superiores, quanto de colegas de trabalho. E muitas vezes quando a mulher se coloca numa posição de enfrentamento, ela acaba descartada. Enquanto sindicato, estamos levando para as trabalhadoras palestras contra a violência doméstica e nos locais de trabalho, além de judicializar alguns casos, quando necessário”, completa a dirigente.

 

Desafio da equidade

A titular da Secretaria da Mulher da CONTICOM-CUT, Dulcilene de Morais, reconhece que o crescimento da presença feminina nas obras reforça o desafio das entidades sindicais de lutar pela igualdade de gênero nos planos de carreira e também pelo cumprimento da Lei 14.611/2023 sancionada pelo presidente Lula em junho de 2023 e que trata da igualdade salarial entre mulheres e homens.

 

“As mulheres estão mais presentes nos canteiros de obras, mas ainda é um crescimento tímido, e que é maior nos escritórios e na parte técnica, que ocupa engenheiras e técnicas de segurança. Nosso principal desafio é a luta pela igualdade salarial e pela equidade na carreira, para permitir que mulheres tenham as mesmas chances dos homens de alcançar cargos de chefia”, explica Dulcilene.

 

A preocupação da dirigente é explicada pelos dados do 1º Relatório Nacional de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios, divulgado março deste ano pelos ministérios das Mulheres e do Trabalho e Emprego (MTE), que mostram que as trabalhadoras mulheres ganham 19,4% a menos que os trabalhadores homens no Brasil.

Essa situação, porém, é mais grave no setor da construção, de acordo com dados do segundo semestre de 2024 da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do MTE, que apontam para uma diferença perto dos 30%, especialmente nas chamadas “atividades operacionais”, ou seja, as ligadas aos canteiros de obras.

Segundo dados da Rais relativos às atividades econômicas (CNAE) de “Construção de Edifícios” e “Serviços Especializados de Construção”, a relação entre os salários medianos de mulheres e homens é de cerca de 70% para as atividades operacionais, índice que cai para 94% no setor administrativo.

Ou seja, nos canteiros de obras as mulheres ganham cerca de 30% menos que os homens, enquanto nos escritórios das construtoras essa diferença cai para cerca de 6%. Esses mesmos dados apontam que as mulheres ocupam atualmente cerca de 16% do total das vagas desses dois setores de atividade econômica.