Evento sindical do setor moveleiro aponta qualificação como prioridade
Encontro em Mongaguá (SP) para debater cenário atual do setor também destacou importância da aumentar a participação das mulheres nos sindicatos e focar na filiação da juventude
Publicado: 18 Julho, 2024 - 15h45
Escrito por: Redação CONTICOM | Editado por: João Andrade
Um setor em franca expansão econômica, mas com uma preocupante dificuldade de encontrar mão-de-obra qualificada. Este foi um dos principais cenários apresentados a mais de uma centena de dirigentes durante o 26º Encontro Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores(as) no Setor de Móveis e Madeira, realizado entre os dias 3 e 5 de julho, em Mongaguá (SP).
O evento, tradicionalmente organizado pelos sindicatos moveleiros de Bento Gonçalves (RS) e de Mirassol/Votuporanga (SP), e o dos Marceneiros de São Paulo, contou este ano com apoio das federações desses estados (Feticom-SP e Feticom-RS) e da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira da CUT (Conticom).
“Recebemos mais de 100 sindicalistas de dez estados, incluindo dos três do Sul, além de São Paulo e Minas Gerais, que representam 80% dos trabalhadores do setor no Brasil. Foi certamente o maior encontro desse setor no país em número de participantes, com resultado muito positivo por apresentar o cenário atual e oferecer ferramentas para uma atuação mais eficiente dos dirigentes sindicais”, avaliou Gilmar Antônio Guilhen, presidente da Feticom-SP.
O sindicalista adiantou que a 27.ª edição do evento será realizada em 2025 no estado de Minas Gerais.
Qualificação profissional é desafio imediato
Segundo Guilhen, os dados apresentados no Encontro pelo Dieese mostraram aos participantes que o setor moveleiro vive um bom momento econômico, está em alta, com crescimento mês a mês nas contratações e no faturamento, mas os sindicatos vêm detectando uma grande falta de mão-de-obra.
O motivo, segundo o sindicalista, seria causado pelo intenso processo de transformação tecnológica pelo qual vem passando a indústria moveleira, com a importação de maquinário sofisticado, mas sem a contrapartida da preocupação com a qualificação dos profissionais para trabalhar nessa nova realidade.
“As empresas estão disputando o pouco que existe de mão-de-obra qualificada, mas faltam trabalhadores e trabalhadoras capazes de operar essas máquinas. As escolas profissionais, como o Senai por exemplo, precisam mudar seu estilo de formação, renovar e atualizar o maquinário oferecido aos alunos e se preparar para esse novo chão de fábrica da indústria moveleira moderna”, defende Guilhen, que também preside o sindicato do mobiliário de Mirassol e Votuporanga.
Nos debates do Encontro ficou definido que, neste tema, caberá aos sindicatos lutar pela valorização dessa mão-de-obra mais qualificada, inclusive para incentivar que os trabalhadores do setor voltem a estudar visando essa demanda por qualificação tecnológica.
Foco nas mulheres e jovens
O 26º Encontro Nacional do Setor do Mobiliário também incluiu na sua pauta de debates a importância de uma maior participação das mulheres no movimento sindical. O tema foi tratado no painel “Machismo no Movimento Sindical”, apresentado por Márcia Viana, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT/SP.
De acordo com Adriana Machado de Assis, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores na Construção e Mobiliário de Bento Gonçalves (Sitracom-BG), os debates evidenciaram a importância de cada sindicato implementar políticas internas que protejam as mulheres contra o assédio e a discriminação, além de garantir mecanismos eficientes para denúncia e resolução dos casos.
“A participação das mulheres cresceu na edição deste ano do Encontro, houve avanços, contamos com cerca 20 mulheres sindicalistas, mas ainda não é o que a gente deseja. Mesmo assim, conseguimos promover um bom debate para mostrar que o machismo dentro do setor sindical ainda persiste, mas que isso pode melhorar com mais mulheres ocupando espaços importantes nas entidades”, disse a sindicalista gaúcha.
A busca pela valorização dos jovens que integram a categoria e por renovação no âmbito sindical, tanto em relação às direções, como também ao universo de filiados, foi outro tema que mobilizou os participantes do evento no litoral paulista.
“Os debates mostraram que os sindicatos precisam mudar sua forma de atuação para ganhar esses jovens que se desinteressaram pelo movimento sindical, especialmente depois da reforma trabalhista que disparou uma onda de desinformação. Temos de mostrar pra essa juventude que conquistas existem e convencê-la a ter participação mais ativa”, resume Gilmar Guilhen.
O evento
A 26ª edição Encontro Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores/as no Mobiliário foi aberta no dia 3 de julho com os dirigentes sindicais participantes visitando a Feira Internacional da Indústria de Móveis e Madeira (ForMóbile), realizada no pavilhão da São Paulo Expo, na Rodovia dos Imigrantes, e considerada a maior e mais completa feira do setor moveleiro na América Latina.
Nos dois dias seguintes, já em Mongaguá, o evento apresentou uma série de debates sobre cenário do setor moveleiro nacional, com paineis como “Fiscalizações das Empresas Moveleiras em São Paulo”, com presença do chefe da Seção de Segurança e Saúde do Trabalhador da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo, e “Os Desafios do Movimento Sindical e sua Manutenção”.
O Procurador do Trabalho Bernardo Leôncio Moura Coelho comandou o painel “Liberdade Sindical sob a Ótica dos Atos Antissindicais”, enquanto André Luís dos Santos, consultor político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), falou sobre “Conjuntura Política e Desafios do Movimento Sindical”.
O último dia do evento foi aberto com o representante da ICM (Internacional da Construção e da Madeira), Nicolás Menasse, apresentando o painel “Certificação da Madeira”, seguido pela palestra de Fernando Lima, técnico do Dieese, que falou sobre o tema “Conjuntura Nacional do Setor Moveleiro”. Ao final, os dirigentes participantes apresentaram a situação do setor moveleiro em cada estado.